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Mais do que responder às mesmas perguntas vezes sem conta de familiares e amigos sobre o meu défice de proteínas e ferro, que as plantas também têm sentimentos, e se não tenho pena das alfaces, pretendo partilhar aqui contigo os desafios e os privilégios que os viajantes veganos, frequentemente, encontram em viagem.
É indiscutível que é muito mais fácil ser vegana no conforto da minha casa e na minha cidade onde já conheço todos os mercados, supermercados e lojas, do que em viagem. Principalmente quando aterro num local onde nunca estive e com tempo limitado. Mas isso, por norma, até acaba por trazer excitação e é sempre uma oportunidade para descobrir novos sabores! O “desconhecido” faz parte do encanto e da experiência dos viajantes.
Contudo, em cima desse desconhecimento que se tem quando se viaja para um novo destino, acrescenta-se o facto de que muito poucos são os países que são conhecidos por terem muitas e boas opções veganas. Talvez nos venha logo à cabeça a Índia, mas provavelmente ficamos por aí.
Dito isto, tenho de acrescentar que viajo bastante e nunca passei fome. Viajar sendo vegana não só é possível como também muito interessante!
Conhecimento é poder
Certos países são mais amigos dos vegetarianos/veganos do que outros. Por isso, é sensato fazer uma pesquisa sobre a culinária local antes de partir.
Saber quais são os pratos e ingredientes típicos do país, é bastante importante para além de culturalmente enriquecedor. Em todo o lado há comidas que são naturalmente veganas, ou quase veganas. Tendo esse conhecimento em mãos, vamos saber que pratos pedir e quais os ingredientes que podemos acrescentar, retirar ou substituir.
A verdade é que a Internet e os guias de viagem tornam esta tarefa fácil e rápida.
Planear com antecedência
Quando viajamos de carro, autocarro ou comboio, o ideal é levar farnel para a viagem. Se a viagem for de avião, é importante pedir a refeição quando se compra o bilhete. Até hoje todas as companhias aéreas com quem voei ofereciam refeições veganas nos voos de longa duração sem custo adicional.
É importante ainda referir que as refeições especiais são sempre servidas primeiro! Mesmo assim, como sou uma pessoa um pouco para o esfomeada, levo sempre comigo montes de lanches como frutos secos, chocolate, barrinhas, sandes, fruta fresca e bolinhas proteicas.
Quando a viagem é para países desenvolvidos, não pode ser mais fácil. A aplicação do HappyCow é espectacular! Basta dizer onde estamos e quantos quilómetros estamos disponíveis para andar e dá-nos uma lista dos restaurantes veganos/vegetarianos por perto. Depois, é só seguir o Google Maps.
Aqui percebemos o quão sortudos somos por podermos fazer opções éticas até sobre o que comemos, sem grandes problemas.
Contudo, esta não é a realidade em todo o lado. Muitos lugares são bastante complicados, como é o caso de Cuba, um safari no Quénia, a Argentina ou nos desertos da Mongólia. Mas mesmo que à primeira vista pareça que é uma tarefa impossível encontrar algo vegano, é sempre possível.
Vantagens
Para quem viaja de mochila às costas, passando ao lado das estâncias, onde os cuidados de higiene são em princípio um pouco semelhantes aos que estamos habituados, existem sempre situações onde as opções são parcas e pouco apetecíveis.
Quando se viaja para países em vias de desenvolvimento e se saí da rota turística em busca de locais mais remotos, as opções onde comer podem ser muito escassas. E é um risco enorme comer uma carne que esteja abandonada às moscas na berma da estrada debaixo do sol ou um marisco num barracão sem electricidade. Parece-me sempre mais encorajador optar por vegetais cozinhados e frutas que podem ser descascadas.
Por outro lado, acabo por ir a sítios que de outra forma nunca iria, pois aquele restaurante turístico localizado na praça central não é opção. Assim, acabo por ser obrigada a falar com pessoas locais, e a explorar bem a culinária de cada país.
Conhecer novas pessoas enriquece qualquer viagem. Muitas já foram as vezes que locais me deram boleia para aquele que consideravam ser o melhor restaurante da sua terra a servir comida vegana ou caminharam comigo até ao local.
Se viajasse de outra forma e não fosse vegana nunca teria descoberto tantos sítios típicos longe das rotas turísticas. Teria perdido imensas oportunidades que me permitiram viver e experienciar cada local de forma mais autêntica.
Na grande maioria das grandes cidade é geralmente muito fácil encontrar comida vegana. Em Los Angeles, New York, Portland, San Francisco, em Londres, Toronto, Tel Aviv, Bengaluru, Chennai, Singapura, Hong Kong, Berlim, e Taipei. Estes são alguns exemplos onde é extremamente fácil tropeçar num bom prato vegano.
O que não dispenso
Independentemente do país que visito, viajo sempre com uma pequena mala de cabine. Por isso, nunca posso levar um canivete ou uma faca comigo, mas é logo uma das primeiras compras que faço. É fundamental ter algo cortante para descascar e cortar frutas e vegetais, e uma colher para comer algumas frutas, como mamão, papaia, kiwi, maracujá… Eu tenho um kit da To-Go Ware Utensil Set, que contem uma faca, garfo, colher e pauzinhos chineses tudo feito de bamboo, são espectaculares, duradouros, leves e muito práticos.
Ter uma pequena mochila para quando se anda a passear é essencial. Carregar alguns lanches, não só é uma forma de poupar dinheiro e tempo, mas também de nos mantermos alimentados e saudáveis ao longo de toda a viagem. E claro que não dispenso a minha garrafa da Vapur, é reutilizável evito as garrafas de plástico e quando está vazia dá para enrolar e não ocupa espaço nenhum, é mesmo excelente para viagens.
Shampoo em barra é outro item essencial. É leve, ocupa pouco espaço, não conta como liquido nos aeroportos e dura muitíssimo tempo.
Para lavar os dentes, levo uma escova e pasta mas também um pauzinhos de miswak. Apesar de não ser nada fã do sabor faço o ‘sacrifício’ quando estou em viagem. Eles são espectaculares, não precisam de água ou pasta dos dentes por isso dá para lavar os dentes em qualquer lado.
Já disse adeus aos pensos higiénicos e tampões à muitos anos, e quando estou em viagem não há excepções. O copo menstrual é muito prático, e leve, e pode-se ter o copo colocado até a um máximo de 12 horas, por isso a questão da limpeza não é grande problema, pois pode ser sempre feita ao fim do dia quando estamos de volta ao alojamento.
Ir aos mercados
A ida a mercados não é só um excelente meio de imersão cultural, mas é também um óptimo local para comprar e abastecer com fruta fresca, sandes, vegetais, manteigas de frutos secos, doces, frutos secos…
Aprender a comunicar os básicos
Da experiência que tenho existem sempre opções, umas melhores outras piores, nos restaurantes típicos das localidades. Em alguns países saber falar inglês chega, mas noutros, torna-se imperioso conhecer algumas palavras-chave na língua nativa. É importante memorizá-las ou tê-las escritas num papel para explicar o que queremos.
Regra geral os restaurantes satisfazem os nossos pedidos facilmente. “Quem tem boca vai a Roma”! É importante contudo ser paciente e cortês, pois nem toda a gente sabe o que significa vegano ou vegetariano.
Já perdi a conta dos pratos que vieram com camarões e frango… Por isso, é preciso ser específico e paciente.
Uma vez no Borneo, expliquei bem o que queria. A senhora, muito atenciosa e simpática, disse: “sim, sim sei perfeitamente o que quer, esteja descansada…”. Quando o prato chega, digo: “mas isto tem carne…”. Ao que ela responde, confusa: “isso não é carne.., é frango!” Aqui aprendi mais uma lição: é preciso ser muito específico. Sem carne, sem frango, sem porco, vaca, sem peixe ou marisco, nem camarões!
Outra opção é fazer o passaporte vegano, que contêm palavras e frases em cerca de 80 línguas diferentes. Este livrinho pode ser comprado na página The Vegan Society ou noutros sítios web.
Onde Dormir
Uma boa opção são os albergues/hostels e airbnb que permitem a utilização da cozinha. Ou ficar com locais veganos em couchsurfing. Outra opção, é procurar alojamento 100% vegano. Eles existem, mas são por norma um pouco mais caros.
Segue blogs de viagens veganos
Esta é uma das melhores formas de encontrar informação. É dada por pessoas que estiveram no local para onde vais e, como tu, têm uma dieta vegetal.
Espero que este artigo te deixe um pouco mais relaxado/a se em breve fores embarcar na tua primeira aventura vegana. A realidade é que nada é impossível, muito longe disso. Tudo o que é preciso é um simples processo de preparação, seguir as dicas que aqui dei e as de outros viajantes que já estiveram no país para onde vais.
Resumindo, na prática, verduras, frutas, cereais e leguminosas estão em todo o lado com mais ou menos abundância, diversidade ou acessibilidade.
Boas viagens e bom apetite ??? deixa um comentário se tiveres alguma, questão ou se quiseres partilhar algo comentário ou dica.
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